Madeleine Peyroux

"I asked the boy for a few kind words

He gave me a novel instead

But I'm all right"

[Madeleine Peyroux]

Era sábado, uma tarde de sábado. Se não me engano, dia 20 de junho. Eu não sei exatamente o que me passou pela cabeça, mas senti uma vontade irresistível de entrar numa loja de cds e comprar alguma coisa nova. Mesmo que, após uma audição mais profunda e atenta, tal cd não fosse o melhor.

Entrei. Perguntei se havia algum álbum de blues ou jazz e a moça me empurrou até a estante que segurava em completa harmonia álbuns de Billie Holliday, Miles Davis e outros artistas bem conhecidos. Mas não era exatamente o que eu queria. Eu procurava uma carinha nova.

À princípio devo confessar que fiquei supresa ao ver um cd com a fotografia de uma moça de semblante italiano, numa combinação de cores entre o vestido vinho, o xale amarelo, e um sofá verde posicionado a frente de um muro daqueles que se vê em desenhos, com todos os tijolinhos marrons gritando "oi, estou aqui".

Interessante porque não é só a imagem.
Tudo em Madeleine Peyroux grita: "oi, estou aqui!"

A moça da loja perguntou se eu gostaria de ouvir antes de levar, e escutei metade da primeira música. Senti a mesma coisinha de 10 anos atrás estalar quando, pela primeira vez, ouví Alanis Morissette vomitar tudo o que eu gostaria de dizer. Rapidamente me pus à frente do balcão e perguntei qual era o cd mais antigo, e ela apontou para "Dreamland". E foi esta maravilha que levei para casa. A capa não era tão chamativa quanto aquela de "Half - The Perfect World" que descreví acima. Mas arrisquei mesmo assim.

Dreamland - Primeiro disco lançado em 1996 traz uma copilação de clássicos super bem repaginados. "I'm gonna sit right down (and write myself a letter)" imortalizado nas vozes de Billy Holliday e Ella Fitzgerald, ganha um novo tom, algo mais folk e mais natalino, mas nem por isso está menos belo. Pelo contrário, parece mais feliz. Deste album a minha predileta é "Always a Use" em sua versão violão e voz, bem Pearl Jam. Coisa linda de Deus.

Uma semana depois da descoberta, voltei à loja para comprar mais um cd. Desta vez trouxe para casa um presente bem mais significativo. Half - The Perfect World seu quarto álbum, e nele estão algumas músicas autorais. "I'm all right" é muito engraçadinha, é um exemplo típico de música cuja letra combina super bem com a melodia, como se fossem feitas para filmes ou afins.

Pouco se sabe desta artista nata. Viveu em diferentes cidades, seu pai era um ator e sua mãe era uma professora de francês, e foi com a família hippie que ela aprendeu a tocar instrumentos excêntricos, como um Ukelele. Talvez daí tenha surgido também a adoração por apresentações em espaços urbanos de muito tráfego, como as ruas e praças de Paris.

"Eu gosto de tocar nas ruas porque é lá que eu aprendendo com outros músicos. E lá eu posso saber o que as pessoas acharam da minha canção. É uma idéia bem simples, mas ao mesmo tempo, vendo o lado social, é ótimo. Porque ver as pessoas parando para ver expressões e curtir os artistas nas ruas, é algo bem gratificante" diz Peyroux no seu Bare Bones EPK. Se você domina o inglês e quiser conferir os relatos de Madeleine na íntegra sobre cada uma das 11 faixas que compõem o cd Bare Bones entre outras coisas, clique aqui.

Energia, poesia, imagens e sons delicados. É o mínimo que você vai encontrar quando parar e apreciar a obra de Madeleine Peyroux. Você tem procurado algo para relaxar? Fica a dica.

;D