Memorial Day...

"...why? Why?

Tell them that it's human nature"

[Michael Jackson]

Não poderia deixar de dizer que, das apresentações, a mais emocionante foi de John Mayer. O cara passa 12 dias homenageando o ídolo de infância através de seu twitter e artigo veiculado em um dos maiores jornais impressos em circulação nos EUA; Pega do fundo do baú a guitarra com a qual aprendeu a tocar e constantemente se refere a ela como seu "coração" ou "tesouro mais precioso"; Leva a guitarra despedaçada, descascada, arrombada (como o coração de muita gente alí)...e do silêncio no Staples Center, faz fluir dela um solo conhecido e perfeito, um dedilhado tímido de "Human Nature".

Ele se curva, e continua a dedilhar com um pouco mais de ritmo, batida meio blues, e entra a banda com o andamento e a melodia como era concebida nos show por aquele que estava deitado, logo alí em frente sob as flores.

Quando eu penso que ele vai cantar, John Mayer se afasta do microfone num movimento brusco, como quem diz: "eu não posso, essa só ele poderia..." e continua a dedilhar enquanto eu (me desmanchando em lágrimas) espero atenta pela voz daquele que não levantou. Que não cantou.

Um caro amigo achou a apresentação "boba", e depois comentou que não tinha visto por esse lado. Mas eu não estava acreditando no que estava vendo, parece que a ficha só caiu com este silêncio que fez a voz do Michael na música que estava sendo executada. E que como eu disse no twitter: "valeu mais que mil palavras".

Parabéns pelo talento John Mayer, você sempre me surpreende.

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Memorial Day ou Funeral Service? (show? circo?)

Escrevo isto e vem você me perguntar: Há diferença? Sim! Embora até neste caso algumas regras tenham sido quebradas. Um Funeral Service é quando o corpo está presente, e um Memorial Day é quando não há corpo. Somente lembranças, símbolos (coisas que pertencem e lembrem o falecido) e homenagens.

Dependendo do individuo que passou desta para melhor, os dois termos podem se juntar e formar um "Memorial Service" como foi feito com Michael Jackson. Assim como também foi feito com o personagem fictício Marcus Hooks, do filme "Soul Men" em que sua antiga banda volta aos palcos e todos cantam com o caixão branco (em formato de piano) no palco.

Aliás, o filme citado tem Samuel L. Jackson, Isaac Hayes e o humorista Bernie Mac. Os dois últimos faleceram antes do lançamento do filme nos cinemas. E em seu funeral, Bernie Mac - o rei da comédia, teve seus momentos de descontração lembrados por outros comediantes e amigos no hall de uma Igreja Batista. Um funeral cheio de risadas e aplausos, e caso não acredite, você pode conferir aqui.

No final de 2006 o mundo perdeu James Brown, clique aqui para ver que belo. Uma banda tocava músicas dançantes, e todos cantavam e dançavam. Neste vídeo você vê Michael Jackson se despedindo, dando-lhe um beijo na testa enquanto todos vibram. E num outro momento, ainda no James Brown Memorial Day, o Rev Sharpton e Michael Jackson falam do amigo que se foi.

Porque este choque? Como alguém tão lady como Elizabeth Taylor pode chamar algo assim de circo? Como um jornalista de canal aberto pode afirmar que nunca foi produzido algo como o "Memorial Day de Michael Jackson", se temos tantos exemplos de coisas até mais belas, mais caras e às vezes mais chocantes feitas pelo mundo afora?

Eu continuo achando que isto não é coisa de americano. Não são eles que transformam tudo em show, é coisa de ser humano mesmo. É coisa de quem tenta ver o lado bom de tudo. Talvez eles tenham até aprendido com os japoneses, já que há 11 anos atrás o Japão foi palco de um dos funerais mais tocantes que eu já ví.

Memorial Day no Japão

hide (escrito com letras minúsculas, pronuncia-se "ri-dê") foi guitarrista do X Japan, a banda mais conhecida de lá (até os dias atuais). Ele era uma criança no corpo de homem, super carismático, se vestia de forma incomum ao ponto de, à primeira vista, muita gente não saber se era homem ou mulher. Pintava o rosto, pulava, ria alto, mostrava a língua e brincava com tudo e com todos. Acho até que foi ele quem criou o look emo que a gente vê hoje em dia no ocidente. Era o membro mais carismático da banda que fez seu último show no reveillon de 1997.

A banda acabou e hide seguiu em seu projeto solo, com a banda Spread Beaver. Meses depois ele foi encontrado enforcado em seu banheiro, quase sentado, quase sóbrio, quase vivo. Dizem que foi um acidente, hide teria escorregado e a toalha (que estava em seu pescoço) enganchou no trinco da porta, e como ele estava bêbado não teve forças para se levantar... morreu a caminho do hospital.

Uma série de suicídios (alguns até da mesma forma) se seguiram, e seu melhor amigo, Yoshiki (baterista do X Japan), mesmo em estado de choque teve que aparecer em público pedindo a todos que homenageassem hide de uma outra forma, quem sabe até com a alegria que ele gostava de ver nos fãs.

Um funeral no templo budista, com apresentação da banda, foi feito. E as homenagens se seguem até hoje. Todos os anos, no mês de maio hide é lembrado e suas músicas são executadas no seu Memorial Day. Este ano,o Tokyo Dome (um dos maiores estádios do mundo) ficou lotado, e uma das apresentações mais marcantes deste evento que dura quase o dia inteiro, foi de sua banda Spread Beaver tocando com tempo cronometrado para seguir perfeitamente hide, que estava lá, no telão!

Veja (e sinta) o que é um Memorial Day no Japão:

O que eu acho disso tudo? Eu acho muito digno!

Se a música e o sorriso eram as marcas de alguém que se foi, pra quê ficar no chôro?

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À propósito... a banda na qual hide se consagrou, X Japan, está de volta desde o ano passado. Mas não voltou sem guitarrista. No Japão eles ressucitam as pessoas as quais eles admiram. É...isso é sério. E o hide voltou aos palcos através da holografia. E mesmo sendo um holograma, hideto matsumoto fez o público pirar com sua apresentação.

Se quiser conferir hide de volta à vida para um show, veja um dos vídeos logo abaixo.

E eu ainda fico imaginando como seria se o Michael tivesse levantado pra dançar um "who's bad?"

Kizu.
(beijo em japonês)